sábado, 3 de outubro de 2009

Sr. Dean

(Tamy Fernandes)

Quando dizem que a estrada é a vida, a gente nem dá bola, até que um dia, na estrada, aparece alguém pra te fazer acreditar de uma vez por todas nisso. Chega a ser engraçado - e fascinante.

Quem diria que num sábado tão sem graça como o de hoje, algum homem de 50 anos fosse te dizer que Dean Moriarty passou naquela estrada um dia pedindo carona, de calça jeans e uma camiseta branca? Ah, e como ele botava fé naquelas palavras!

Sentado alí, num tijolinho encardido, fumando um cigarrinho de palha, os pés numa sandália de couro marrom, calças folgadas, camiseta rasgada, e uma cabeça cheia de fumaça, aquele homem, - que eu nem sei quem é e da aonde veio e pra onde vai -, olhava pra estrada, e a estrada olhava pra ele. O homem sabia das coisas. "Já tinha sacado a vida". E vivia. "Dean Moriarrrrrty passô uma veiz cum os passos dele mêmo por essa estrada tudinha ." E eu ouvia, porque, na verdade, ninguém podia dizer que aquilo era mentira.

E aí você queria estar com um gravador nas mãos, pra tirar tudo daquele homem e mostrar pro mundo. Da onde ele veio, por onde ele andou, pra onde ele vai. Pela cára, foi um sujeito pé-de-vento, daqueles iguais ao próprio Dean.

Mas os docinhos caseiros já estavam na sacola, era hora de partir. E como eu queria ficar! Ou então, levar aquele pé-de-vento comigo, quem sabe. Mas o lugar de pessoas como ele, é na estrada mesmo, daquele jeito.

Não tenho nem uma foto, - ele não gosta dos flash's -, só uma testemunha que nem conta muito, porque, estava comprando doces e não repara em nada nem em ninguém. Mas eu não esqueço. E, como nem sei o nome do sujeito, botei-lhe o nome de Dean.

Era hora de ir embora. "Tchau, fique em paz, e de olho na estrada caso o Moriarty apareça, haha!". Me despedi.

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