quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Arde-Arte"

Tamy Fernandes


Hoje eu sou a arte, a música e a mágica ressaca dos bêbados do centro da cidade.
Só por hoje eu sou, por vontade de ambas, a palavra e a imagem.
Hoje eu legalizo a liberdade e, indistintamente, sou álcool e fumaça.
Hoje eu censuro qualquer zumbido de máquina e qualquer barulho.
Só por hoje o almoço é de graça.
Hoje não aceito raças, carcaças, migalhas, desgraças.
Hoje a bala do revólver não mata.
Só por hoje eu tenho o dom da palavra.
Hoje a política não me maltrata.
Só por hoje eu sou todos de uma só vez.
Hoje sou patrão e não freguês.
Hoje não me chamo José, mas Senhor Burguês.
Hoje soy latino e não babo inglês.
Só por hoje eu canto a bola da vez.
Só por hoje.
E nunca mais talvez.