domingo, 11 de outubro de 2009

Fotos novas! Sofrimentos velhos!

Já sabem, é por aqui: www.flickr.com/tamy_fernandes

Não vejam só com os olhos.
O nome dela é Maria. É brasileira. Filha de pais escravos e mãe de cinco crianças magras e sujas.
Quando pode, coloca um quilo de feijão na panela. Mas quando as coisas ficam difíceis, e as cinco criançinhas choram de fome, Maria pensa até mesmo em roubar. Não dinheiro, nem o povo, nem os cofres. Mas só um quilo de feijão. Só para enganar as bocas famintas de suas crianças.
Mas no mesmo instante Maria recua, ela sabe, todos sabem: quem rouba feijão vai preso. E ficar atrás das grades, com cinco crianças para criar, é só o que Maria não quer. Então ela tem de esperar até que alguém bata a sua porta e lhe entregue um quilinho de feijão. Mas isso nunca acontece.
Aí Maria precisa pôr seus cinco filhos sofridos nas ruas de São Paulo, pedindo dinheiro para comprar comida. E ela os orienta para que tomem cuidado com os carros, que fiquem atentos ao trânsito, é perigoso, e ela sabe disso.
E lá vão os cinco pequenos. Mas são pequenos e têm medo. Os carros voam, os sinais mudam de cor, e as crianças choram. O mais corajoso tem apenas 8 anos. Já alcança o vidro do carro. Mas os motoristas são mais rápidos que aquelas mãozinhas encardidas, e os vidros, sempre blindados, não descem. "Essas crianças acomodadas! Podiam estar estudando se quisessem, podiam ter uma vida melhor se quisessem, podiam até mesmo trabalhar futuramente se quisessem!". Mas é claro que as crianças da Maria não querem nada disso! Elas gostam de sentir o estômago vazio todos os dias, e tocar o asfalto com os pés descalços, e certamente não têm tempo para essa história de estudar.
Os pequenos, todos cansadinhos, voltam para os cuidados da Maria. Mas ela também está muito cansada. Todos estão muito cansados. Marias e Josés, todos muito cansados. É uma pena, não? Se todos eles não estivessem tão cansados assim, poderiam até aproveitar esse Brasil da ordem e do progresso, não? É uma pena sim, estarem tão cansados esses Josés e Marias e todas as suas criançinhas.

(Tamy Fernandes)

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