sexta-feira, 21 de maio de 2010

Camuflanagem

Tamy Fernandes

Flanar.
Sim, flanar, e com destino ou não, sempre levar na "bagagem biológica" um pouco de paz.
E com ou sem chave, dar um jeito de tirar as correntes dos pés e descalçar-se de todo couro fino e salto alto.
Flanar.
Com o cotidiano, com o vento que vai e vem, com o povo, com o louco, com os poucos, com vinte e poucos ou aos cinquenta, mas flanar, de bengála, de muleta, no asfalto ou á beira mar.
Flanar na rua, bem crua, nua, suja.
Vestir um pano leve, esqueçer o 'volto em breve' e escorregar o pé no asfalto.
Sentir bem lá do alto uma fumaça de óleo diesel entrar pela cuca, descer a garganta e voltar em forma de fuga.
E flanar todo dia, mesmo com a correria, larga a louça na pia e pisa com calma que tudo esfria.
Flanar, pra cá, pra lá, sem se preocupar se o dinheiro dá.
Ouvir o som da buzina bem perto do ouvido e ficar quase surdo de tanto gemido de fome, de dor, de revolta. É gente batendo na porta pra vender revista, é gente dormindo na porta pra fugir de polícia, é gente que bate a porta na cára de quem necessita. E quem recita um verso camarada, como é que fica?
Se fica, eu nem sei.
Mas pra quem não se alimenta da lei... "Vâmo flanar pra caramba!Que um dia esse povo bamba vai fazer tudo girar!".

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