tag:blogger.com,1999:blog-12918966953048529912024-02-19T04:49:31.474-03:00Página 1.<b>... porque é por aqui, meu caro, que toda conversa começa.</b>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.comBlogger30125tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-86996096918219545922010-06-04T01:15:00.004-03:002010-06-04T01:41:44.808-03:00Ví vendo<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8A_AK2E_WWTab-DmnEyKaMYQXo_PwDf9NbQRSaIwSyXdjo7EAjnWIvRrrv6VUs_W44gGbeh-UVzWwnnaWzXagRCKWz90WbrSaSmEMFR_ACLJ8gLPy8zo4kI8YREWP8RavflI4ff82PGo/s1600/Rua+030.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 267px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8A_AK2E_WWTab-DmnEyKaMYQXo_PwDf9NbQRSaIwSyXdjo7EAjnWIvRrrv6VUs_W44gGbeh-UVzWwnnaWzXagRCKWz90WbrSaSmEMFR_ACLJ8gLPy8zo4kI8YREWP8RavflI4ff82PGo/s400/Rua+030.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5478773639826362130" /></a><br /> Hoje faz uma semana.<br /> Hoje faz uma semana desde o dia em que enfiei numa mochila vermelha tudo o que eu precisava pra ficar uns 5 dias na rua. <br /> O 'ficar' na rua é diferente do 'estar' nela. Muitos estão nela de passagem. Os que ficam nela são poucos. Os que ficam nela não têm 4 paredes, nem teto, nem grades. Só o chão. Os que ficam nela têm o chão. <br /> Um chão que treme e se parte a cada passagem de massas e tropas de competidores naturalmente humanos. Naturalmente? Humanos...<br /> Conheci as margens.<br /> As margens.<br /> E ás margens fiquei. E ví. <br /> Ví Josés, Daniels, Nelsons, Tiagos, Danilos, Miguels... e tantos outros que vivem.<br /> Todos muito vivos.<br /> Ficar na rua e estar vivo cabe dentro deles. Coube em mim.<br /> Eu era do tamanho da minha mochila.<br /> Na ruas couberam muitas mochilas, de muitas pessoas, dentro de mim.<br /> Margens.<br /> Flanar pelas margens.<br /> Ás margens.<br /> Verdades.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">TF</span><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-357104242082255282010-05-21T01:05:00.008-03:002010-05-21T01:48:34.969-03:00Camuflanagem<span style="font-style:italic;">Tamy Fernandes</span><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju6PNfZvca8fmWMvqZh6_-xvKM_IQLtRVY0GXptEPkpI_O0284PefJR6UAE7ZezcLE4VHmK3Wy0niwC-zBtdhQ42LHahISETw_702lhL4ITli54u0GpeeqlC01rZD1GOklu4W9AJaI2YM/s1600/SP+(3).jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 300px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEju6PNfZvca8fmWMvqZh6_-xvKM_IQLtRVY0GXptEPkpI_O0284PefJR6UAE7ZezcLE4VHmK3Wy0niwC-zBtdhQ42LHahISETw_702lhL4ITli54u0GpeeqlC01rZD1GOklu4W9AJaI2YM/s400/SP+(3).jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5473579463665296242" /></a><br /> Flanar.<br /> Sim, flanar, e com destino ou não, sempre levar na "bagagem biológica" um pouco de paz. <br /> E com ou sem chave, dar um jeito de tirar as correntes dos pés e descalçar-se de todo couro fino e salto alto.<br /> Flanar.<br /> Com o cotidiano, com o vento que vai e vem, com o povo, com o louco, com os poucos, com vinte e poucos ou aos cinquenta, mas flanar, de bengála, de muleta, no asfalto ou á beira mar.<br /> Flanar na rua, bem crua, nua, suja. <br /> Vestir um pano leve, esqueçer o 'volto em breve' e escorregar o pé no asfalto.<br /> Sentir bem lá do alto uma fumaça de óleo diesel entrar pela cuca, descer a garganta e voltar em forma de fuga.<br /> E flanar todo dia, mesmo com a correria, larga a louça na pia e pisa com calma que tudo esfria. <br /> Flanar, pra cá, pra lá, sem se preocupar se o dinheiro dá.<br /> Ouvir o som da buzina bem perto do ouvido e ficar quase surdo de tanto gemido de fome, de dor, de revolta. É gente batendo na porta pra vender revista, é gente dormindo na porta pra fugir de polícia, é gente que bate a porta na cára de quem necessita. E quem recita um verso camarada, como é que fica?<br /> Se fica, eu nem sei.<br /> Mas pra quem não se alimenta da lei... <span style="font-style:italic;"><span style="font-weight:bold;">"Vâmo flanar pra caramba!Que um dia esse povo bamba vai fazer tudo girar!"</span>.</span><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-17680782177976078212010-05-02T03:33:00.003-03:002010-05-02T03:34:37.725-03:00Tarkovski<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp43sSDKfYriYme68Jm_xddX5AG6OAJYi9W0RxpOZl6wWxZkEDYwgG6sos7RsdGqFNzrwXSjP-8On0G0aDUIa_-bs367S6-olVAUc2Itck-hYxf5MHHoPzUSn-3h9FxHxtvTA5O2gJJ2Q/s1600/fotoespejoarsenit.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 295px; height: 366px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgp43sSDKfYriYme68Jm_xddX5AG6OAJYi9W0RxpOZl6wWxZkEDYwgG6sos7RsdGqFNzrwXSjP-8On0G0aDUIa_-bs367S6-olVAUc2Itck-hYxf5MHHoPzUSn-3h9FxHxtvTA5O2gJJ2Q/s400/fotoespejoarsenit.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5466557132958325538" /></a><br />Éramos conduzidos, sem saber para onde;<br />Como miragens, diante de nós recuavam<br />Cidades construídas por milagre,<br />Havia hortelã silvestre sob nossos pés,<br />Pássaros faziam a mesma rota que nós,<br />E no rio peixes nadavam correnteza acima,<br />E o céu se desenrolava diante de nossos olhos.<br /><br />Enquanto isso o destino seguia nossos passos<br />Como um louco de navalha na mão.<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-60315959188368263762010-04-08T20:59:00.002-03:002010-04-08T21:04:55.196-03:00"Arde-Arte"Tamy Fernandes<br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmXajwHHF33DknpNFyJigy-V2CzWbmkw352H8dqfRycEe9Lv6cOuyDWSx4oh1IJV3WiTV7vZ660Ot8WIHALCjnsJ_Qyz3GqiXCD9Ff2N2VLcRexfxFOKFtNsjeMLgy3GgJkpCu4WSN6Vo/s1600/art.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 240px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjmXajwHHF33DknpNFyJigy-V2CzWbmkw352H8dqfRycEe9Lv6cOuyDWSx4oh1IJV3WiTV7vZ660Ot8WIHALCjnsJ_Qyz3GqiXCD9Ff2N2VLcRexfxFOKFtNsjeMLgy3GgJkpCu4WSN6Vo/s320/art.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5457921606715173138" /></a><br /><br />Hoje eu sou a arte, a música e a mágica ressaca dos bêbados do centro da cidade.<br />Só por hoje eu sou, por vontade de ambas, a palavra e a imagem.<br />Hoje eu legalizo a liberdade e, indistintamente, sou álcool e fumaça.<br />Hoje eu censuro qualquer zumbido de máquina e qualquer barulho.<br />Só por hoje o almoço é de graça.<br />Hoje não aceito raças, carcaças, migalhas, desgraças.<br />Hoje a bala do revólver não mata.<br />Só por hoje eu tenho o dom da palavra.<br />Hoje a política não me maltrata.<br />Só por hoje eu sou todos de uma só vez.<br />Hoje sou patrão e não freguês.<br />Hoje não me chamo José, mas Senhor Burguês.<br />Hoje soy latino e não babo inglês.<br />Só por hoje eu canto a bola da vez.<br />Só por hoje.<br />E nunca mais talvez.<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-65981845426598659952010-03-18T20:59:00.007-03:002010-03-18T21:32:38.948-03:00Página nada<span style="font-weight:bold;">Tamy Fernandes</span><br /><br /><big>Página 1. E por onde começar?<br /> Começo falando dos que sentem fome ou dos que sentem frio? Dos que não ouvem ou dos que não falam? Daqueles que tocam ou daqueles que cantam? Ou falo de todos eles que, na verdade, são um só? <br /> Começo entregando 1 real ao pedinte da esquina ou poupando-o ao lavador de vidros do semáforo seguinte? Compro um doce do gurizinho descalço ou um sorvete para o de 3 anos sentado na calçada? Abraço o que chora ou o que grita? Ouço o lamento ou o protesto?<br /> Defendo quem? E para quê? Deixo que me leiam ou leio de uma vez todos eles?<br /> A insônia é de quem? Do que nunca dorme ou do que nunca acorda? <br /> Falo com quem? Com os de terno preto ou com os rasgados da ponte?<br /> Assisto a Copa, a política ou o Tsunami? Ou me calo de uma vez e deixo passar?<br /> Passar todos os que sofrem da arte, da fome e do frio, bem na minha frente. <br /> Passar todos eles para a página 2. Puxá-los mais tarde á página 1. E por fim, ao fim que é deles e de mais ninguém, deixá-los ir para casa, de madeira, de barro, de plástico, de ponte, de viaduto, de calçada e de lata, de página nada.</big><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-7588357631224359792010-01-02T18:05:00.004-02:002010-01-02T18:18:23.583-02:00As cidades invisíveis<span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Aos que acharam que esse Blog já estava juntando teia de aranha, aqui está o texto - maravilhoso -, de Caio Leonardo:</span><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">"Que cidade é esta, em que tantos vivem, mas que só você vive, que só você vê?</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> É sua a cidade dos que olham para cima? É sua a cidade dos que olham para o chão, para as calçadas, para os degraus?</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Ou a cidade dos que não olham, dos que não vêem?</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> A sua é a cidade em que a barriga pesa até libertar uma nova vida, ou aquela em que não se pode falar em barriga?</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Conte como é a cidade dos que se doem de amor e a das para quem o ato de amar dói.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Vamos ler a cidade dos que ouvem outros sons e dos que não ouvem som algum. A dos que tocam sons que não se ouve e a dos que não emitem sons.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Como é a sua cidade, se sua cidade é sua cor?</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"> Como é sua cidade, encoberta pelo olhar viciado do quotidiano, escondida pela indiferença ou apenas tímida, recôndita: cidade invisível."</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;"><br /></span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size:small;">Por Caio Leonardo.</span></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-7377116891556252942009-11-30T20:04:00.002-02:002009-11-30T20:24:31.470-02:00Dia 30Fala camaradinhas! Todos firmes?<div> Hoje é dia 30/11, "segundona", e o ano já está quase acabando.</div><div> Eu estive planejando postar aqui um texto muito especial escrito por Caio Leonardo Bessa Rodrigues, então nessas últimas semanas entrei em contato com ele, através do meu quase útil Orkut, enfim, pedi ao Caio para publicar seu texto aqui no Blog. </div><div> O texto de que tanto gostei vai lhe fazer perguntas.</div><div><br /></div><div>Aguardem.</div><div><br /></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-36056550405790679732009-11-23T19:46:00.004-02:002009-11-23T20:09:54.853-02:00Embalagem: o Brasil por dentro e por fora<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbqy6sH2BlLN8905z9-Htg5Ol2SHrlmEJ_jjmu4NJ5t4Cu2J_O4eDltu0UZ7mb5AtQqbHVnYs9bpjjrknWz-KtjWqUSvmNYuO5HJFtFDGGu7tAnifHIgm7z4BrXb1lNfaOY37hgIFRZYk/s1600/lulanewsweek.jpg"><img style="float:right; margin:0 0 10px 10px;cursor:pointer; cursor:hand;width: 169px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjbqy6sH2BlLN8905z9-Htg5Ol2SHrlmEJ_jjmu4NJ5t4Cu2J_O4eDltu0UZ7mb5AtQqbHVnYs9bpjjrknWz-KtjWqUSvmNYuO5HJFtFDGGu7tAnifHIgm7z4BrXb1lNfaOY37hgIFRZYk/s200/lulanewsweek.jpg" border="0" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5407423432914833682" /><span class="Apple-style-span" style="color: rgb(0, 0, 0); -webkit-text-decorations-in-effect: none; "><span class="Apple-style-span" style="font-size:medium;"><i>(Tamy Fernandes)</i></span><br /></span></a><div><br /></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Não é de se espantar que o presidente Lula venha, e cada vez mais, ganhando força político-diplomática pelos países que por muito tempo mantiveram suas portas fechadas para qualquer tentativa de diplomacia. Por ter caminhado das bases operárias até a presidência do Brasil, Lula tornou-se um ícone de superação e boa vontade entre os brasileiros.<br /></span><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;">Quase automaticamente, o carnaval, o carisma e o futebol são associados ao Brasil. Visto de fora, o "país da alegria" parece levar a vida no embalo de uma rede. E assim visto, o Brasil seria o país perfeito para as Olimpíadas de 2016.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> O incentivo ao esporte é certamente necessário, contudo, fazer do Rio de Janeiro a sede olímpica, não significa que todas as crianças carentes, ou não, receberão suportes e infraestruturas esportivas em suas escolas e cidades. A ideia de que a economia gerada pós-olimpíadas favorecerá inteiramente o país é um tanto quanto utópica. Certamente os cofres brasileiros serão abastecidos e a economia crescerá, porém as feridas inflamadas que sempre existiram no âmbito interno do Brasil não serão estancadas.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> A pobreza, a violência e a contrastante desigualdade social brasileira já tornaram-se paisagem natural e costumeira do país. O convívio diário com o crime já virou rotina.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> Com tantos problemas sociais, econômicos e culturais a serem resolvidos internamente, a saída é investir no carisma brasileiro e garantir que " o Brasil é o país do futuro." Se tal futuro for o ano de 2016, temos pouquíssimo tempo para moldar esse Brasil do presente. Em cinco anos teremos de encontrar os curativos para as feridas que existem no sistema educacional brasileiro, no sistema de transporte público, no sistema de saúde e moradia, e tantos outros sistemas falhos do país.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> O Brasil é como um livro pintado lindamente por mãos habilidosas, provido de uma capa dura e resistente, mas com um conteúdo por trás da capa inteiramente frágil e mal escrito.</span></div><div><span class="Apple-style-span" style="font-size: medium;"> Inegavelmente 2016 será um ano de muitos sorrisos e conquistas, contudo, um país não se faz só de sorrisos e infelizmente, 2016 não é daqui a quinhentos anos.</span></div><div><br /></div><div><br /></div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-71673861754069943622009-11-22T01:10:00.006-02:002010-03-18T21:40:36.188-03:00Papai-noel de fardo pesado<img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 172px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5406777488045511650" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4Rw1kbmqC5ncLG7e2nF6q6Xt6ZSCjbg1lxffqdDWNXUkL5kzLUqxpNTwpN5-KjenaQmOP9Zwhr6MeBVuF8cADJd06Xs2c2yzB7Ta7CteJ_-kBZZWNJiEJN_YqhcbYGXDcd4rdSJQtNaI/s200/crianamimada.jpg" /><span style="font-size:130%;">Todo fim de ano é a mesma coisa. Como são repetitivos os movimentos!</span><br /><div><span style="font-size:130%;">Antes de aflorar dezembro já piscam as luzes vermelhas, amarelas e verdes do natal. E as crianças, ah sim, as crianças choram quando um velho barrigudo vestido numa roupa vermelha, e suada, se aproxima com um saco cheio de doces melados. As mães não deveriam obrigar seus filhos a tirarem fotos com aquele homem grande e assustador. Aliás, as mães não deveriam mimar tanto suas crianças. </span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">Quando a educação dos filhos baseia-se na lei do bom-comportamento, as coisas desandam. Os pais têm de gastar muito dinheiro no natal, e depois no aniversário, e depois no dia-das-crianças, e depois aqui e depois alí. E se não gastam, as crianças choram. As crianças choram quando são crianças. Quando adolescentes, elas (as crianças crescidas) usam e abusam do "eu odeio vocês!''. </span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">E lá se vão os pais odiados gastar mais dinheiro com suas crianças rebeldes. Mais do que qualquer sentimento, eu sinto pena desses pais. Uma pena com uma pitadinha de desapontamento. Amar um filho é diferente de criá-los tão soberanos. Dar á eles todos os brinquedos da loja, ou um celular quando só têm oito anos de idade não traduz o amor. </span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">Vejo hoje pais selados e encurralados. Vejo hoje filhos com as rédeas nas mãos. Os adolescentes estão mais complicados que manual em chinês. As crianças mais mandonas que patrão recém nomeado. Os pais desses bichos indomáveis precisam de colo e cafuné, e muitas pílulas para dormir. </span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">Mas eu estava falando do natal. O natal. É nessa época que o capitalismo grita de felicidade. E por falar em grito, uma menina chamada Rayssa de apenas sete anos, no natal passado mandou-me uma carta pedindo uma cesta básica ou então um panetone de chocolate. Rayssa pediu uma cesta básica ou um panetone de chocolate. </span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">Eu não sei se existe papai-noel onde Rayssa vive. Mas eu sei que ela não vai pedir um celular da última geração esse ano, e sei também que Rayssa não vai odiar seus pais quando estes lhe negaram uma ida á "balada".</span></div><br /><div><span style="font-size:130%;">Que vocês tenham um bom natal... e filhos iluminados.</span></div><br /><div></div><br /><div><strong><span style="font-size:180%;">T.F</span></strong></div><br /><div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-77815819449463265682009-11-13T22:31:00.005-02:002009-11-13T22:54:23.078-02:00Alguns poucos<span style="font-size:130%;">Desaparecer.</span><br /><span style="font-size:130%;">Desaparecer é tudo o que voa, escoa e some. Tudo que cai e não levanta. Que sobe e nunca mais desce. Desaparecer é o que todos fazem.</span><br /><span style="font-size:130%;">Diferentemente de tudo o que é descartável, os que dasaparecem se vão sem despedidas, e o que sobra são suas imagens há muito queridas e amadas. Quem desaparece, de certa forma, fica nos machucando dia após dia. Nunca vamos sentir um amor tão dolorido quanto o amor ao desaparecido. </span><br /><span style="font-size:130%;">Demore o tempo que for: todos desaparecem.</span><br /><span style="font-size:130%;">Desaparecer é uma tarefa para poucos, só os mais queridos desaparecem. Querer bem é complicado e tão raro que chega a ser desconhecido. Desconhecidos. Desconhecidos são admiráveis porque não os conhecemos. Mas estes também desaparecem.</span><br /><span style="font-size:130%;">Aquele "Carpe Diem" nunca funcionou comigo. Sempre sentia um frio na barriga quando pensava nos meus queridos futuros desaparecidos. De imadiato eu me lembrava daquela dor no peito, já antiga, que me tomou por inteira em 2005. </span><br /><span style="font-size:130%;">Mais difícil que desaparecer, é esquecer. É bom treinar ao longo da vida. É bom acostumar seu coração aos ocasionais desaparecimentos que virão. Vir e ir. Nunca gostei de dizer "tchau". Acho uma verdadeira interrupção de afeto. Meu carinho por alguns é tão grande que chego a transbordar em alegria quando os encontro no mesmo chão que eu piso.</span><br /><span style="font-size:130%;">Desaparecer.</span><br /><span style="font-size:130%;">Que verbo destruidor de sorrisos é esse?.</span><br /><br /><em><span style="font-size:130%;">"Para o Mauro... que desapareceu."</span></em><br /><span style="font-size:180%;"><strong>T.F</strong></span><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-46668999066231611962009-11-04T23:50:00.012-02:002009-11-05T22:18:33.489-02:00Demonologia<img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 200px; FLOAT: left; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5400447675696321586" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu2bjWlQ2lXzvc60pwTIGIWXaiEj76zMOKkpoiT5QSErGnP2WH6SI7ARljHc93Soz_Y9u0jcG6narA_orPUi3W2c9HLmiKQEZq9f5boZ8oczmN2TjjZuL2WOcKF2GfVVcp4STHek02K48/s200/img.jpg" /><span style="font-size:130%;"><span style="font-size:85%;"><em>"Insônia não é definida pela quantidade de horas que uma pessoa dorme ou quanto tempo leva para cair no sono. Indivíduos geralmente variam em suas necessidades de sono. Insônia pode causar problemas durante o dia como cansaço, falta de energia, dificuldade de concentração e irritabilidade."</em><br /><em></em></span>Estou acordada desde ás 4 da madrugada. Até agora, são aproximadamente 21 horas de pé.<br />Preciso escrever.<br />De madrugada, quando tudo é silêncio e paz, eu fui até a estante de livros, tirei de lá <em><strong>Demonologia</strong></em>, de Rick Moody. É um livro muito interessante - apesar de não muito conhecido. Nele Mooddy reuniu treze contos que trazem á tona os "demônios" de toda gente civilizada desse mundo. <em>Ao mesmo tempo trágico e irônico, este livro questiona, de forma inteligente, a moral estabelecida, abrindo, ferindo e levantando questões que o senso comum prefere ignorar. </em>É isso que estava escrito na sinopse.<br />Quando o comprei, eu estava caminhando pelo centro da cidade vestindo um agasalho preto e grosso. Eu não estava em um dos meus melhores dias. </span><br /><span style="font-size:130%;">Era um mercado sujo e tumultuado, era lá que estava o livro, no final de um corredor estreito e mal cheiroso. Cinco reais. Era só isso que eu tinha no bolso: uma nota de cinco reais.<br />Quando cheguei no final do corredor, uma moça de olhos verdes me encarou, - certamente ela estava com muito calor pois nunca estive em lugar mais quente que aquele final de corredor. Nem me dei ao luxo de olhar os livros que estavam em uma mesa, só perguntei á ela que livro eu poderia comprar com cinco reais. Com um certo espanto no olhar, a moça me trouxe um livro verde claro com um pacotinho de balas coloridas na capa. "<em>Esse aqui." </em>Rick Moody, eu lí. Já tinha visto aquele nome em algum lugar. Lembrei de <em>Tempestade de Gelo</em>, sim, ele escreveu a obra que virou filme. Tirei a nota do bolso e levei o livro. Ótimo, agora eu só precisava chegar em casa e tentar dormir um pouco.<br />Cheguei uma hora depois, entrei no meu quarto e joguei o livro na estante de madeira perto da minha cama. Deitei e dormi.<br />Mas voltando ao dia de hoje: há muito esquecido, o livro de Rick Moody foi resgatado por mim ontem de madrugada numa tentativa desesperadora de me concentrar em alguma coisa.<br />Fiquei um tempo olhando a capa. É uma capa tão vazia de sentimentos que chega a ser mágica.<br />Fui até a última página, 287, sim, 287 páginas. Um livro de contos, 13 contos em 287 páginas.<br />Começei. Era interessante. O primeiro conto fazia uma crítica á moral do casamento. O segundo á moral do lucro. O terceiro ao McDonald's? Enfim, são 13 contos. Treze tapinhas na cara.<br />Tapinhas na cara do senso comum. Tapinhas suaves, mas ainda sim são tapinhas.<br />Isso é tudo que estou com vontade de escrever. Quero tomar um banho e ir sentar na calçada até ás 2 da madrugada, voltar pro quarto, ouvir <em>In my Dreams</em> e continuar de pé até semana que vêm.<br /><br />Tchau camaradinhas, durmam bem, muito bem.<br /><span style="font-size:180%;"><strong><em>T.F</em></strong><br /></span><br /></span><span style="font-size:130%;"><em></em></span><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-11308345066527447272009-11-03T22:10:00.003-02:002009-11-05T00:42:13.366-02:00De volta.Depois de cinco dias de palavras ausentes, aqui vão elas novamente, enfim. Gostaria de escrever todos os dias. Mil palavras por dia. Um café e quinze minutos. Porém, e esse porém me entristece, arranhar as teclas desse meu teclado preto já não é mais meu prazer cotidiano, - não porque não quero, mas porque o tempo não me deixa sentar mais em minha cadeira giratória, e não me deixa perder a cabeça nas palavras. Por quê? Simples: ou sigo o relógio ou não sigo o mundo. E que mundo! Todo complicado e apressado. Ninguém senta, ninguém conversa, ninguém ouve uma música, ninguém fuma um cigarro.<br />Sem mais delongas. Eu só queria dizer que estou fazendo o possível para reviver meus momentos de paz-escrita e paz-pensada.<br />Tenham paciência humanos.<br /><br />E por falar em paz: fiquem com ela!<br /><strong><em><span style="font-size:180%;">T.F</span></em></strong><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-81946209305200907792009-10-29T12:39:00.000-02:002009-10-29T12:40:07.030-02:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh28eMftcZIT9g7xglEBeY2P47Q_Cu6YTTZFf8Jb3z4siQsb7JmKE985ZV4UPkKx_yViIcGmlVFivsUP14NzCH-5vRSvc6JP5nnYK4COfWMzB7u5WGMTwQyzf6GelZF1ck3JnnwxpDCmUw/s1600-h/C%C3%B3pia+de+cart%C3%A3o.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 249px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5398031647953512514" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh28eMftcZIT9g7xglEBeY2P47Q_Cu6YTTZFf8Jb3z4siQsb7JmKE985ZV4UPkKx_yViIcGmlVFivsUP14NzCH-5vRSvc6JP5nnYK4COfWMzB7u5WGMTwQyzf6GelZF1ck3JnnwxpDCmUw/s400/C%C3%B3pia+de+cart%C3%A3o.jpg" /></a><br /><div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-43457713865832570462009-10-22T01:19:00.007-02:002010-03-18T21:36:39.841-03:00A rua<img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 174px; FLOAT: right; HEIGHT: 200px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5395268290001104962" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj9giLA2EDcuorBDffYnDKaAnJy-9-1HoRcNHeXFqsWjs6IxYs5N7JCsCn7_rt0wC56djDZeAtNnuqD6URj49HXxO4Ld_2tyVzJGrHmG1aLV3-913HRUPqvp8lEwObxXvMsPd_As0HOQgQ/s200/mendigos.jpg" /><em>(Tamy Fernandes)</em><br /><div><div></div><div><br />Sou louca pelas pessoas loucas.</div><div>Loucas para viver, loucas para falar, loucas para sentir, loucas para olhar, loucas para amar.</div><div>Confio nas pessoas que ardem, ardem, ardem como fogos de artifício no céu vazio.</div><div>Gosto das pessoas viradas ao avesso. Amo suas almas e suas cabeças.</div><div>Sou amante das ruas. Do asfalto, do cimento, dos tijolos e dos operários suados e tristes.</div><div>Amo os olhos infantis e toda sua inocência. Gosto dos bagunçados, dos sem planos, dos sem relógio, dos sem teto, dos sem ódio, dos sem dinheiro, dos sem sistema, dos sem isso e dos sem aquilo.</div><div>Não tenho pressa. Não rastejo nem corro. </div><div>Sou amante das ruas e de seus habitantes andarilhos. Pés de vento.</div><div>Amo as palavras e seus falantes. As palavras corrosivas. Os livros. O cérebro em forma de letra.</div><div>Sou amante das ruas e dos pés que a pisam noite e dia. Dia e noite. De tarde, a rua arde. </div><div>Amo os pés. </div><div>Gosto de quem anda, de quem não senta, de quem não lamenta olhando o umbigo. Amo os sem regras. Os poetas, os artistas, os desgarrados.<br />Sou amante das ruas sujas e verdadeiras. Das calçadas estreitas. Das lombadas feita de gente. </div><div>Sou amante das ruas e por isso faço o contorno na avenida e amo todos os rostos e cheiros que sinto.</div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-52307802816985360432009-10-16T00:34:00.006-03:002009-11-05T00:53:46.337-02:00Empregadinho de poeta<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuqiJ27coomde7IiSOX1SfuH_St2ukmUg54mq8p-mnjsIHAIbRXWOndSYXNxdFhyu0LGyYs1KZbSFw5PJQhcr6r9T5irXOwegjrcedjcXvx6u-leWAlEv3pG3IukZtGkU6bjTxVASvxrI/s1600-h/moraes.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 200px; DISPLAY: block; HEIGHT: 83px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5393045500365921746" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuqiJ27coomde7IiSOX1SfuH_St2ukmUg54mq8p-mnjsIHAIbRXWOndSYXNxdFhyu0LGyYs1KZbSFw5PJQhcr6r9T5irXOwegjrcedjcXvx6u-leWAlEv3pG3IukZtGkU6bjTxVASvxrI/s200/moraes.jpg" /></a>Poetinha vagabundo.<br /><div>Não tira os pés da sandália, não abotoa a camisa, não lava as calças.</div><div>Nem dorme, nem sonha, nem levanta e nem senta.</div><div>Poetinha vagabundo que não se aposenta.</div><br /><div></div><div>Joga-se na cadeira ( é de madeira) e acende um cigarro.</div><div>Deixa a janela fechada que tem gente á espreita.</div><div>Aproveita e estica essas pernas cansadas</div><div>que eu mesmo pego tuas sandálias e guardo.</div><br /><div></div><div>Põe o violão maltratado no colo e arranha essas cordas</div><div>com esses teus dedos manchados de tinta.</div><div>Deixa que as cinzas desse teu cigarro </div><div>eu mesmo varro.</div><br /><div></div><div>Abotoa essa camisa que teu peito fica vermelho depois do meio dia.</div><div>Poetinha vagabundo que nem me dá ouvidos.</div><div>O violão cansado, caindo e chorando, e esse teu afago de poeta</div><div>preocupado.</div><br /><div></div><div>Deixa derreter o gelo desse teu uísque, velho afobado!</div><div>E tira o violão de cima da mesa que o luger dele</div><div>é no seu colo!</div><div>Poetinha vagabundo. Seca o copo e enxuga os olhos.</div><br /><div></div><div>Agora deita e dorme homem, que ninguém para</div><div>em pé com tanta coisa na cabeça. Descansa!</div><div>Amanhã você me fala Vinicius, mas agora me obedece</div><div>que você já não é mais criança.</div><br /><div></div><div><em>(Tamy Fernandes)</em></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-91235801834631557412009-10-11T23:40:00.009-03:002009-10-12T01:05:28.574-03:00Fotos novas! Sofrimentos velhos!<img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 304px; DISPLAY: block; HEIGHT: 400px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5391538227816990114" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi5fN4OT-2pzcIKdnQ667jAM_WsHUPObmdATrFRfjCrM9GB-G0VOCHpD_uKkNpUizr7ELiQ-QeJWzfwfEMqHgR68XDJnNIL-wVCak32jWVe8OJ-ubJcXYICh1UeWUvZtBLJcNlA8fFcf7U/s400/IMG_0368.JPG" />Já sabem, é por aqui: <a href="http://www.flickr.com/tamy_fernandes">www.flickr.com/tamy_fernandes</a><br /><br />Não vejam só com os olhos.<br />O nome dela é Maria. É brasileira. Filha de pais escravos e mãe de cinco crianças magras e sujas.<br />Quando pode, coloca um quilo de feijão na panela. Mas quando as coisas ficam difíceis, e as cinco criançinhas choram de fome, Maria pensa até mesmo em roubar. Não dinheiro, nem o povo, nem os cofres. Mas só um quilo de feijão. Só para enganar as bocas famintas de suas crianças.<br />Mas no mesmo instante Maria recua, ela sabe, todos sabem: quem rouba feijão vai preso. E ficar atrás das grades, com cinco crianças para criar, é só o que Maria não quer. Então ela tem de esperar até que alguém bata a sua porta e lhe entregue um quilinho de feijão. Mas isso nunca acontece.<br />Aí Maria precisa pôr seus cinco filhos sofridos nas ruas de São Paulo, pedindo dinheiro para comprar comida. E ela os orienta para que tomem cuidado com os carros, que fiquem atentos ao trânsito, é perigoso, e ela sabe disso.<br />E lá vão os cinco pequenos. Mas são pequenos e têm medo. Os carros voam, os sinais mudam de cor, e as crianças choram. O mais corajoso tem apenas 8 anos. Já alcança o vidro do carro. Mas os motoristas são mais rápidos que aquelas mãozinhas encardidas, e os vidros, sempre blindados, não descem. "<em>Essas crianças acomodadas! Podiam estar estudando se quisessem, podiam ter uma vida melhor se quisessem, podiam até mesmo trabalhar futuramente se quisessem!". </em>Mas é claro que as crianças da Maria não querem nada disso! Elas gostam de sentir o estômago vazio todos os dias, e tocar o asfalto com os pés descalços, e certamente não têm tempo para essa história de estudar.<br />Os pequenos, todos cansadinhos, voltam para os cuidados da Maria. Mas ela também está muito cansada. Todos estão muito cansados. Marias e Josés, todos muito cansados. É uma pena, não? Se todos eles não estivessem tão cansados assim, poderiam até aproveitar esse Brasil da ordem e do progresso, não? É uma pena sim, estarem tão cansados esses Josés e Marias e todas as suas criançinhas.<br /><br /><em>(Tamy Fernandes)</em><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-1392067876283006332009-10-07T20:06:00.004-03:002010-03-18T21:45:22.606-03:00Nº<em>(Tamy Fernandes)</em><br /><br />Numa tarde de quarta-feira, entre 13:40 e 17:00, enquanto caminhava despretenciosamente pelas ruas e calçadas da cidade - como sempre faço toda quarta-feira -, resolvi contar por quantos "capitalizados" e por quantos "marginalizados" eu passava. Queria contar todos aqueles rostos sem ter de debruçar-me sobre uma mesa e traçar escalas e gráficos aqui e alí.<br /> Logo na primeira rua, contei 1 cachorro vira-lata e 2 maltrapilhos tão sujos quanto o cão. E que engraçado né camaradinhas: os 3 reviravam o mesmo lixo.<br /> Três ruas abaixo e eu já havia contado mais de 20 capitalizados. Parece muito, mas muito mesmo, foram os números de crianças descalças perambulando as ruas com caixinhas de doces nas mãos. Não camaradinhas, elas não estavam comendo os doces, não mesmo! Havia também um senhor de uns aparentes 70 anos, que sentado num meio-fio, resmungava algo para sí mesmo. É claro que ele não falava em voz alta. Os anos em que ficou gritando, pedindo socorro, lhe feriram a garganta. Agora, os lamentos seguem em voz baixa. E quem quiser ouví-los, terá de encostar a orelha bem perto daquela boca faminta, e terá além do mais, que se curvar, porque o homem de tão sofrido já pendia a cabeça corpo abaixo. Pobre homem! Ele já sabe que a burguesia não se curva.<br /> Quando passei por ele, olhei bem para o seu rosto e, acreditem, tinha cor de terra pisada, - e não preciso dizer de quem foram os pés que marcaram o rosto daquele homem, sim?.<br /> Eu já estava andando por mais de 1 hora. E como era de se esperar, eu já havia perdido a conta de quantos rostos indiferentes haviam passado por mim. Foram tantos, que... ah, é uma pena!<br /> Se calculado, - e vamos tentar os números, já que as imagens por sí só não comovem á ninguém -, o número de desolados multiplicado pelos dias da semana, vamos obter um número de aproximadamente, 35 seres humanos maltratados de segunda á segunda. E, multiplicando isso por 365 dias, tenho certeza que o número ultrapassa o valor do último carro importado, da mensalidade da escola, das bolsas e carteiras de couro, do tapete italiano...sim sim.<br /> Estava muito quente hoje, não? Mas tinha uma mulher com um suéter vermelho de lã puxando um carrinho de ferro cheio de papelão. E ví também um homem deitado numa porta com uma manta grossa cobrindo o rosto. Mas estava muito quente hoje, não?<br /> Não andei até ás 17:00. Perambulei até ás 15:45 exatamente. Comprei uma garrafa de água e fui pra casa. E, apesar de não morrer de amores pela matemática, eu fui fazendo meus cálculos.<br /> Talvés seja essa a sacada: os números. As pessoas gostam de números. Literalmente.<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-83629062363600074722009-10-03T22:13:00.006-03:002009-10-03T22:50:07.699-03:00Sr. Dean<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHOPwYHk5TKoT8nQs7hkbbNXaOefSOd2ARikRtZ9KHLpBWLTUE0akOecYMWXtRanaRAK9hLeTZDxkNuFbJsfZ7qp3x7XKGRpaLJui5p3HfbpyGy8BDGccrsrkRHq15RZpbV5fumD6HjFo/s1600-h/on+the+road.jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; FLOAT: right; HEIGHT: 150px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5388555847887574322" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHOPwYHk5TKoT8nQs7hkbbNXaOefSOd2ARikRtZ9KHLpBWLTUE0akOecYMWXtRanaRAK9hLeTZDxkNuFbJsfZ7qp3x7XKGRpaLJui5p3HfbpyGy8BDGccrsrkRHq15RZpbV5fumD6HjFo/s200/on+the+road.jpg" /></a><em>(Tamy Fernandes)</em><br /><div><div><div></div><div></div><div><br />Quando dizem que a estrada é a vida, a gente nem dá bola, até que um dia, na estrada, aparece alguém pra te fazer acreditar de uma vez por todas nisso. Chega a ser engraçado - e fascinante. </div><br /><div>Quem diria que num sábado tão sem graça como o de hoje, algum homem de 50 anos fosse te dizer que Dean Moriarty passou naquela estrada um dia pedindo carona, de calça jeans e uma camiseta branca? Ah, e como ele botava fé naquelas palavras!</div><br /><div>Sentado alí, num tijolinho encardido, fumando um cigarrinho de palha, os pés numa sandália de couro marrom, calças folgadas, camiseta rasgada, e uma cabeça cheia de fumaça, aquele homem, - que eu nem sei quem é e da aonde veio e pra onde vai -, olhava pra estrada, e a estrada olhava pra ele. O homem sabia das coisas. "Já tinha sacado a vida". E vivia. "<em>Dean</em> <em>Moriarrrrrty</em> <em>passô uma</em> <em>veiz cum os</em> <em>passos</em> <em>dele</em> <em>mêmo</em> <em>por</em> <em>essa</em> <em>estrada</em> <em>tudinha</em> <em>aí</em>." E eu ouvia, porque, na verdade, ninguém podia dizer que aquilo era mentira. </div><br /><div>E aí você queria estar com um gravador nas mãos, pra tirar tudo daquele homem e mostrar pro mundo. Da onde ele veio, por onde ele andou, pra onde ele vai. Pela cára, foi um sujeito pé-de-vento, daqueles iguais ao próprio Dean. </div><br /><div>Mas os docinhos caseiros já estavam na sacola, era hora de partir. E como eu queria ficar! Ou então, levar aquele pé-de-vento comigo, quem sabe. Mas o lugar de pessoas como ele, é na estrada mesmo, daquele jeito. </div><br /><div>Não tenho nem uma foto, - ele não gosta dos flash's -, só uma testemunha que nem conta muito, porque, estava comprando doces e não repara em nada nem em ninguém. Mas eu não esqueço. E, como nem sei o nome do sujeito, botei-lhe o nome de Dean. </div><br /><div>Era hora de ir embora. "<em>Tchau, fique em paz, e de olho na estrada caso o Moriarty apareça, haha!</em>". Me despedi. </div></div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-16969411226392544852009-10-01T00:45:00.004-03:002009-10-01T01:24:52.230-03:00Made in Brazil - 1954"Capoeira pra estrangeiro, meu irmão, é mato.<br /><div align="left">Capoeira brasileira, meu compadre, é de matar!"</div><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dz_YXmN0dnO6hzzCAtSzrw7W7EZWAQsbSDBRnOlZ71DX7FQdJzRg1Bl8BzV5W6IJw_2w4k4lWKl8GvkC9RQvA' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-73731983285640953592009-09-29T23:48:00.004-03:002009-09-30T00:10:56.747-03:00Horário nobre<img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 200px; FLOAT: right; HEIGHT: 146px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5387092530728715762" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhlaZioLa85Nq9Ke7mSbHmPUDWNKWOOEQrNmjPZ0Iz9aU4kL0RN8QEeUY2dmwli-VvUBAeDe7AMZKJyugmshnHXJprU7_a0-SNUx5XHp_Jew4WRVaQgMfFNiWt3Op1lbvolJfQSbHp6D50/s200/tv-digital.jpg" /><em>(Tamy Fernandes)</em><br /><br />"Veículo ágil, versátil, moderno e verdadeiramente acolhedor". Tal frase não faz parte de nenhum anúncio publicitário lançando algum modelo novo de automóvel no mercado, mas descreve exatamente a apinião de Bruno Giordani, 17 anos, estudante de moda, sobre o que é a TV atualmente.<br /><br />Além dele, milhares de jovens, crianças, adultos e até mesmo a chamada "geração experiente", acompanham dia-a-dia a programação televisiva.<br /><br />De fato, acompanhar tal programação todos os dias não se faz tão preocupante, o problema, é que a maioria das pessoas confunde vida com novela.<br /><br />Isso só acontece porque o poder de exibir ou ocultar imagens e informações está nas mãos de poucos, e desse pouco que governa a mídia, todos agem em prol do mesmo interesse: moldar telespectadores. Na teoria, esse interesse parece ser inalcançável, porém, na prática, isso ocorre sem nenhum impedimento, á medida que nos dias de hoje, dificilmente vejamos alguém que não tenha um aparelho de TV em casa.<br /><br />Como dizia a letra de Leci Brandão: "Na hora que a televisão brasileira distrái toda gente com a sua novela, o Zé do Caroço batalha, o Zé do Caroço trabalha e malha o preço na feira". O Brasil é feito de milhares de "Zés do Caroço", e a todos eles são direcionadas programações controladas.<br /><br />Algo que os faça esquecer de todo problema político-social brasileiro, dos salários baixos, da fome e do desemprego, e os faça acreditar que, realmente, a vida é uma novela.<br /><br />A TV manipulada desvia os olhos da sociedade dos problemas públicos e os coloca diretamente nos monitores dos aparelhos de TV.<br /><br />A solução para o problema seria abrir portas para o povo. E dar espaço ao povo, não significa dar um papel principal a um cidadão comum em uma novela, mas sim dar acesso a esse indivíduo na produção da TV. Aí sim seriam os valores do povo na tela, e não os valores impostos ao povo pela tela.<br /><br />Por mais justa que pareça tal teoria, na prática, o sonho de uma TV sem manipulação é quase que impossível de se realizar. Uma sociedade sem imprensa, por exemplo, é algo impensável.<br /><br />Se não manipulada, a TV seria a porta voz do povo. Enquanto isso não acontece, o povo vai ficando, e cada dia mais, sem voz.<br /><br />Mais do que globalizados, estamos, demasiadamente, "Globalizados".<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-20239686832302660262009-09-26T15:24:00.002-03:002009-09-26T15:28:43.015-03:00Fotografia Digital.<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2l4Gz-iWyh1vl65nTCr7P9oPRVyVMJSjaRS-HLfe1UvPkL2FFWqz2GDDWyeXOUQnEUEC3sqOasBJSdspfzuBoT2BiUTwYgApEIsW0C2fl6gNutdIPsj8KY_f2SHC1M46jECdA3dYoXGM/s1600-h/C%C3%B3pia+de+foto+019.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 400px; DISPLAY: block; HEIGHT: 270px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5385844717046468306" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2l4Gz-iWyh1vl65nTCr7P9oPRVyVMJSjaRS-HLfe1UvPkL2FFWqz2GDDWyeXOUQnEUEC3sqOasBJSdspfzuBoT2BiUTwYgApEIsW0C2fl6gNutdIPsj8KY_f2SHC1M46jECdA3dYoXGM/s400/C%C3%B3pia+de+foto+019.jpg" /></a><br /><div>Contato: <a href="mailto:fernandes_tamy@yahoo.com.br">fernandes_tamy@yahoo.com.br</a></div><br /><div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-46761318366683586362009-09-24T22:34:00.004-03:002009-09-25T00:12:04.280-03:00SE<em>(Tamy Fernandes)</em><br /><br />Continuo correndo cansado, cambaleando certamente, contudo, continuo correndo, - calma cavalheiro! cuidado! -, continuo correndo. Curva. Cavalo - "clap clap clap". Campos. Colheita. Camponeses. Capangas calados cutucando coitados. Continuo correndo, - calma cavalheiro! cuidado! -, corro, corro, corro. Curva. Casa cuidadosamante coberta. Campos - café! -, colhendo: corpos calejados. Comerciante chamando criado:<br />- Compra café?<br />- Capaz!<br />Criado cai choramingando. Chicote. Corte. Cicatriz. Comerciante chamando:<br />- Compra café cretino? - cuspiu.<br />- Claro!<br />Criado cuidadosamente criado.<br />Continuo correndo, - calma cavalheiro! cuidado! -, corro, corro, corro. Cansei. Cachimbo. Coração calmo. Corro. Corro. Corro. Curva. Campos concentrados. Cadáveres. Cascas. Cicatrizes. Canhões. Carabinas. Corpos caídos. Chefe chamando:<br />- Cale-se Comunista!<br />Coração cortado! Cotinuo correndo, corro, corro, corro, - calma cavalheiro! cuidado!. Curva. Calçada. Crianças. Cabisbaixas. Caixas. Choro. Cocaína. Costas curvadas. Criança chamando:<br />- Cadê comida?<br />Continuo correndo. Crentes caminham, cruzes, crucificsos. Cristão chamando:<br />- Cristo?<br />- Calúnia camarada!<br />Crente chocado. Continuo correndo. Casas. Clubes. Comércio. Comerciantes. Coca-Cola. Carros. Criaturas. Consumo. Criaturas consumindo. Consumo consumindo criaturas. Cabeças codificadas. Capital. Capitalismo. Capitalistas. CO², - "cof cof cof " -, CO², chuva, CO², chuva. Crosta. Capitalismo cantarolando. Comerciantes cobrando. Consumo. Coca-Cola, - <em>"</em><em>cool!".</em> Capitalismo cercando cabeças. Civilização. Coisa cruel!<br />- CARAMBA!!!<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-66596251645967158652009-09-23T21:18:00.011-03:002009-09-23T21:46:57.230-03:00Grande pequeno público ou o meu lado pessimista<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHvCMF41tA9or3kGdhuqLmWk5ikzx1Vd9lN9wacVtwPT_GgV7mA7eyFxQmcs8bi7P9SUvrLTnkiqebufvHOhqo1eZ4r4yaHPH2ujKPfJGfvFE19jcApVe3MmCjBKRu3XAHemy883Q9sH8/s1600-h/Sem+t%C3%ADtulo.jpg"><img style="MARGIN: 0px 10px 10px 0px; WIDTH: 163px; FLOAT: left; HEIGHT: 120px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5384827603038841682" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjHvCMF41tA9or3kGdhuqLmWk5ikzx1Vd9lN9wacVtwPT_GgV7mA7eyFxQmcs8bi7P9SUvrLTnkiqebufvHOhqo1eZ4r4yaHPH2ujKPfJGfvFE19jcApVe3MmCjBKRu3XAHemy883Q9sH8/s200/Sem+t%C3%ADtulo.jpg" /></a>(<em>Francisco Romero)</em><br /><div><div><div></div><div><br />Certa vez no ensino médio me foi proposto o seguinte tema “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Comum ouvirmos esta frase, principalmente numa sociedade imagética como a nossa, ou seja, baseada mais nas imagens do que na escrita. Admiro esta frase e gosto das imagens, muito! É fascinante contemplar uma imagem bonita, seja ao vivo ou pela tela do micro. Há, também, as imagens impactantes dos noticiários que entram em nossas casas diariamente, a TV nos lança avalanches de imagens todos os dias, as que mostram catástrofes são retomadas e comentadas no dia seguinte. Há imagens que são consideradas por alguns como obras de arte, é o caso das fotografias de Sebastião Salgado que registram aspectos sociais e culturais do povo brasileiro, direcionam para a reflexão.<br /></div><div></div><div></div><div><br />Retomando a minha tarefa de arquitetar uma redação com o tema proposto pelo professor, não lembro o que produzi, talvez tenha sido uma redação medíocre, de um aluno não muito comprometido com os estudos. No entanto, o tema não se esgotou naquele dia, penso constantemente nessa idéia, muitas vezes quando estou preparando uma aula, seja para mostrar imagens ou para discutir sobre elas, como faço agora. Por mais que não me lembre dos resultados de meus escritos penso que deve ter sido uma incoerência propositalmente lançada pelo mestre, mas por que incoerência? Pense, para escrever sobre este pensamento é preciso dominar algumas palavras, talvez mil, talvez não, mas pelo menos saber usá-las. As palavras são ferramentas valiosas para ver, interpretar e criticar o mundo. Claro que existem outras maneiras para tal interpretação, existem comunidades tribais que não possui escrita, mas as palavras grudam nas crianças, proporcionando uma memória incrível, como ferramentas. Além disso, no Brasil, temos um índice grande de analfabetismo, fenômeno este que traz outras possibilidades de interpretação e/ou limitações da realidade. Como professor, me interessa escavar os significados das leituras de imagens e de textos e, principalmente, do sentido que faz ou deixa de fazer para os estudantes do ensino médio.<br /></div><div><br />Sinceramente, vibro quando sou questionado por alunos que buscam acessar os temas desenvolvidos em sala de aula e percebo vontade de potência exalando do jovem, isso potencializa minhas vontades, românticas, utópicas, mas quentes, não mornas! Mas tem outro lado, claro. A apatia também permeia entre os jovens e não há um culpado, mas vários. Gosto de uma frase que um mestre me lançou; “a escola é um espaço de contradições!”, de fato. Temos punições, correções, limitações, contenções, clientela -! -, padronizações, horários, burocracias, sinal e afins. Porém, há alguns espaços, geográficos ou não, onde a discussão pode nos levar a experimentações brilhantes, por vezes libertárias, nômades. Essa fagulha me inspira – fagulha (possibilidade: estalo, fogo, brasa, fumaça). Quem se doa a este ofício pode incendiar como pode se queimar, é o risco, não o nego, enfrento, continua sendo minha opção por mais que às vezes me sinta falando para poucos – faísca, estalo, contradições.<br /></div><div> </div><div><br />Por esses dias desci das escadas da utopia e me lembrei que a escola também é reflexo da sociedade, óbvio, mas as vezes esqueço. A sociedade de massa está na sala de aula, homogênea, uniforme e coesa, triste. Não sou pessimista – não muito – acredito no heterogêneo, mas por esses dias pensei mais pela ótica pessimista, confesso. Lembrei da obra, “Cultura de massas no século XX”, de Edgar Morin (1969) pensador da cultura. Ele descreve o surgimento do Grande Público, decorrente dos meios de comunicação de massa, criação do uníssono. Esta linguagem global é criada para dar conta de muitas pessoas, diferentes em diversos aspectos (econômicos, sociais, culturais), mas que terão acesso a um padrão, o da mídia. Não serei maniqueísta, mas esta diversidade vai se esboroando na criação do pensamento único. Morin destaca o principal objetivo desta cultura de massa: o lucro. A referência ao conceito de indústria cultural – caro ao filósofo Adorno – é explícita, pensemos nas produções em série de notícias, músicas, filmes e outros entretenimentos. Esta mídia tenta atingir a todos, e para isso certa linguagem deve ser criada e a cultura passa a ser nutrida nos espectadores, apreciadores. Esta linguagem não surge do nada, seu substrato é a realidade e seu produto, o imaginário. Os filmes apresentam a idéia do Happy End (final feliz), e não sei o porquê, mas lembrei da música de Zeca Baleiro que diz “favela não é hotel, vida não é novela...”.<br /></div><div></div><div></div><div><br />O imaginário é pontuado de questões midiáticas e certo entendimento único vai sendo criado, como já destaquei. Além da expectativa do final feliz, do bem vence o mal, entre outros maniqueísmos correntes, há um anseio pelo novo. Como assim? Bom, principalmente no Brasil, país que valoriza a inovação e rejeita o velho, um filme que tenha mais de um ano se torna obsoleto. Nesta questão lembro-me de meus alunos. Basta ligar o projetor na sala para ouvir a pergunta “é filme velho?”. Respondo com uma indagação, “como assim? Não entendi”. Claro que captei o sentido: “este filme é daqueles velhos, que não tem uma estética nova e apresenta personagens com cabelos engraçados?”. O estudante já pressupõe que vai ser um saco a apresentação, “nada a ver”. Pois bem, neste ponto parece que tudo que foge do conhecido é repelido. Não é comédia romântica, não é besteirol, não é erótico (num sentido banal da mídia aberta), não tem efeitos especiais, não tem sangue espirrando, então, não presta! É incrível como parece existir um molde que impede um público de apreender novas experiências. Muitas são as contradições, pois há uma repetição do novo, poucas experimentações, a última banda da moda é parecida com a anterior, assim como a última comédia romântica, o molde é semelhante. Eu avisei, estou pessimista. Mas a contradição que achei mais interessante, nesse âmbito, foi a que li de um articulista, que afirmava que em nosso país, que apenas se valoriza o novo, tornamo-nos um país do passado, porque não tem memória, porque repete os mesmos erros (vide Senado).<br /></div><div><br />A criação da grande mídia possibilita maior acesso... encerro aqui, não estou espirituoso, deixo este parágrafo para outro dia.<br /></div><div></div><div><br />Há a ilusão de estar-se inovando quando se rejeita o velho, besteira. Não se sabe nem o que é o velho, não existe palavras para descrevê-lo, o repertório é raso (faisquinha). A imagem não é interpretada, é passada “guela a baixo”, sem reflexão – consuma! Inove! Doce espetáculo, doce ditadura.<br /></div><div></div><div><br />O filósofo Kant (1724-1804) ao tentar resolver o problema da teoria do conhecimento (embate entre racionalistas e empiristas) afirmou que o ser humano não nasce com a razão, nem que a experiência em si possibilita chegar à verdade. Para ele, nascemos com um equipamento para apreender o conteúdo do mundo através da experiência, ou seja, razão e experiência caminham juntas. Para exemplificar, pensemos naquele que nasceu cego e a recobra aos 40 anos: olhará, mas não entenderá o que está a sua frente, mesmo que seja a habitual escova de dente. Ele possui o equipamento, mas não tem a experiência. Esta ideia foi desenvolvida no filme “A primeira vista” (1999), do diretor Irwin Winkler. De fato, os equipamentos de sentidos podem ou não se desenvolver. Não precisa ser cego para ter o sentido atrofiado.<br /></div><div></div><div><br />Assim, às vezes penso que há uma espécie de ‘inovação repetida’, ou seja, busca-se o novo, mas dentro de um espaço restrito. As experimentações cessam, caminhos homogêneos e medíocres substituem as energias rebeldes criativas, inovadoras, de vir. Uma imagem pode valer mais que mil palavras, mas se não há desenvolvimento do repertório, se utilizará sempre as mesmas mil palavras, se tanto. </div><div></div><div><em><strong></strong></em></div><div><em><strong></strong></em></div><div><em><strong></strong></em></div><div><em><strong></strong></em></div><div><em><strong><br /><br />(Ao autor: muito obrigada pelas palavras emprestadas!).<br /></strong></em></div></div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-64076811252708828912009-09-21T21:28:00.009-03:002009-09-21T21:54:38.268-03:00Sem palavras <em>(Tamy Fernandes)</em><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwlEiWjaqkkM7GD08BdsJ5NxmQxk244chIxQ45lGhk18RTe7JkfqT_587aZIJhBojySVxMFLtAnMyqb9jSqvqfX2C3CzgpltnH1iut4OyvpNnyULKwvcPXJz1zRjWDTRXuR1nrEi1Noew/s1600-h/palavras.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 240px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5384087812140326082" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwlEiWjaqkkM7GD08BdsJ5NxmQxk244chIxQ45lGhk18RTe7JkfqT_587aZIJhBojySVxMFLtAnMyqb9jSqvqfX2C3CzgpltnH1iut4OyvpNnyULKwvcPXJz1zRjWDTRXuR1nrEi1Noew/s320/palavras.jpg" /></a>"A palavra é metade de quem a pronuncia, metade de quem a ouve." Um dia, Michel de Montaigne, filósofo francês, uniu treze palavras e montou tal frase. Mas, antes de serem escritas, Montaigne pensou em cada uma delas, e as treze, uma a uma, foram saindo de sua boca, para só mais tarde, repousarem em uma das páginas de sua coletânea de pensamentos. Michel de Montaigne tinha razão.<br /><div><div><div> </div><div>As palavras são as pontes que levam a informação, a emoção, a poesia e até a música, de um indivíduo a outro. Trata-se da linguagem como aproximadora de universos.</div><br /><div></div><div>É difícil imaginarmos, nos dias de hoje em particular, uma forma rápida e eficaz de comunicação, sem fazer uso das palavras. O uso da linguagem se faz presente 24 horas por dia.</div><br /><div>Linguagens verbais, virtuais ou escritas, unem-se com o mesmo propósito: a transmissão de uma ideia. E ao serem transmitidas, as palavras ganham tanta força, que podem, por muitas vezes, se tornarem perigosas - Hitler e Mussoluni, por exemplo, sabiam conduzi-las tão bem, que acabaram, indiretamente, matando milhões de pessoas.</div><br /><div>Se avaliado, o conceito de que "uma imagem vale mais do que mil palavras", vem por água abaixo, á medida que uma boa imagem se faz também da capacidade do bom uso das palavras. Elas têm sim, o poder de "embelezar" as pessoas. A boa comunicação é tão estimulante quanto café puro.</div><br /><div>Podemos observar mais de perto a importância da linguagem no aprendizado e alfabetização de uma criança, por exemplo. Ainda que as palavras não sejam reproduzidas na sua mais perfeita sonoridade, as crianças conseguem ainda assim, assimilar a palavra ao objeto, constróem frases curtas, pedem ou recusam, através das palavras, que passam a ser desenvolvidas e aprimoradas dia após dia.</div><br /><div>As palavras, nos seus mais variados usos, são indispensáveis. E não é preciso ocupar uma cadeira na Academia de Letras para amá-las. Basta estar vivo para entender o quão preciosas são, porque a vida meu caro, seja a mais simples ou a mais embaraçosa, se resolve com palavras.</div></div></div><div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1291896695304852991.post-66692573669925771592009-09-18T21:19:00.009-03:002009-09-21T21:56:46.723-03:00Linha 77(<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgECfZlS4KS9T_ignXj1yyY9MkmdShMMVEmCmzbaBoMjSfwrXDmh8Mn2_AAF_XfhYnL0mB69dIB4XgI0KbkN8F5RkPt3hv8GtxDViPD0CGW7u-NGm6UwERBibiISGNiMsjeTR58wVg6uCU/s1600-h/132_258-alt-ovelhas01.jpg"><img style="MARGIN: 0px 0px 10px 10px; WIDTH: 320px; FLOAT: right; HEIGHT: 148px; CURSOR: hand" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5383000281473270370" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgECfZlS4KS9T_ignXj1yyY9MkmdShMMVEmCmzbaBoMjSfwrXDmh8Mn2_AAF_XfhYnL0mB69dIB4XgI0KbkN8F5RkPt3hv8GtxDViPD0CGW7u-NGm6UwERBibiISGNiMsjeTR58wVg6uCU/s320/132_258-alt-ovelhas01.jpg" /></a><em>Tamy F.</em>)<br /><br />Jack estava sentado no último banco do ônibus que ia de Leesburg rumo á Fawcett City. Olhava para os próprios pés o tempo todo, e não movia sequer os dedos da mão. Estava frio em Leesburg quando ele deixou a estação e subiu cambaleando no ônibus da linha 77. Pisou o primeiro degrau com o pé esquerdo, o segundo, o pé direito levantou do asfalto, tocou o degrau, mais uma vez o pé esquerdo entrou em cena, o terceiro degrau, pronto, Jack estava dentro do ônibus. Logo que entrou, ainda de pé, sentiu o cheiro de suor daqueles trabalhadores que voltavam das fábricas, das fábricas de gente, de mente e de corpo. Pequenos robôs que suavam frio dentro daquele ônibus. Fora os trabalhadores, umas moças de uns vinte e sete anos sentavam perto da janela. Eram três. Duas loiras e uma coreana. Jack disse ao policial em Fawcett City, que as moças cheiravam a açúcar queimado.<br />Não havia um lugar vago no ônibus. Jack olhou em volta, nada. Ficou alí, parado no meio do assoalho metálico e sujo da linha 77. Quatro minutos, um barulho de tosse veio do fundo do ônibus. Jack olhou. Um andarilho, maltrapilho, sujo e anônimo como um cão atropelado. Jack saiu do lugar onde estava estacionado a quatro minutos, deu um passo, dois, mais um passo, quatro, cinco, outro, sete, o último. Lá estava Jack de pé, em frente ao homem-maltrapilho e sua sacola marrom no banco ao lado. O maltrapilho ergueu os olhos negros e encontrou os azuis de Jack Hassan. A voz do americano, tão maltrapilho e sujo quanto ao próprio maltrapilho que acabara de conhecer, saiu de sua garganta:<br />- Posso? - disse com o dedo indicador da mão direita apontado para a sacola marrom daquele homem-lixo.<br />Não ouviu a resposta. O maltrapilho gemia. Jack pegou a sacola, - era leve -, sentou, cruzou as pernas e a sacola veio repousar naqueles ossos compridos cobertos por um jeans surrado. O maltrapilho gemia. Jack tossiu:<br />- Não se preocupe, sua sacola está bem confortável aqui. - Riu.<br />O maltrapilho gemia. Jack não desistiu:<br />- O que tem aqui? É bem leve.<br />O maltrapilho, entre mais um gemido e uma tosse, respondeu:<br />- Papéis.<br />- Papéis? - não podia deixar o maltrapilho se calar de novo.<br />- Não me ouviu?<br />- Sim, claro, perfeitamente. Só achei curioso carregar papéis. - Jack engoliu a saliva acumulada na boca.<br />O maltrapilho calou-se. Jack também.<br />O ônibus parou, um homem alto e forte subiu. Usava um terno preto, sapatos de couro e uma maleta. O maltrapilho gemia. O homem procurou um lugar vago, nada. Olhou para o fundo do ônibus. Olhou para Jack, depois, para o maltrapilho. Caminhou. Passos largos. O sapato, ''toc toc toc'' no assoalho metálico. O maltrapilho gemia. O homem parou:<br />- Por favor cavalheiro...<br />O maltrapilho levantou, arrastou os pés imundos, olhou para a sacola, depois para Jack, gemeu, apertou a campanhia, o ônibus parou, uma última olhada para a sacola, um degrau, dois, três, desceu.<br />O homem de terno tirou um lenço do bolso, limpou o banco, sentou. Jack olhou para a sacola marrom, dois segundos, abriu. Papeís. Três folhas amareladas. O ônibus freou, Jack derrubou as folhas. Abaixou, e lá de baixo viu todos aqueles homens, mulheres, velhos e crianças olhando para ele. Todos olhando para ele. Todos aqueles homens bem sucedidos, e aquelas mulheres vazias, as crianças mimadas e os velhos fanáticos, olhando para ele. Jack ficou pálido, "eles viram a arma na minha cintura, sim a arma está aparecendo", pensou. Ainda curvado para frente, Jack leu naquelas folhas amareladas, uma frase de Platão, "uma vida não questionada não merece ser vivida". Jack sabia o porquê de estar alí, sabia desde quando entrou naquele ônibus na estação em Leesburg. "Uma vida não questionada não merece ser vivida". Jack levantou, - a essa hora todos aqueles homens-dinheiro, mulheres-dinheiro, crianças-dinheiro e velhos-dinheiro já estavam gritando. Jack pegou a arma, dedo no gatilho, tiros. Não sobrou ninguém no ônibus, os que não foram atingidos, correram. Jack voltou ao fundo do ônibus, sentou. Vinte minutos e a polícia estava lá. Algemas. Câmeras, jornalistas, polícia, políticos, multidão, massa, homogeineidade. Um rebanho de homens e mulheres, - e cabe dizer que todos eles estavam dizendo que a violência que alí acontecera, foi consequência das drogas, do álcool, das armas, daquele jovem maluco -, corriam de um lado para o outro. Jack parou, olhou para o rebanho. Gritou:<br />- Vocês são rebanhos nessa terra! Todos vocês! Governados, manipulados e cegos! - Jack já estava rouco.<br />Um policial sacou a arma, "bang!", Jack caiu. Pronto, menos uma voz crítica no mundo da política.<br />O maltrapilho gemia, do outro lado da rua, sentado na calçada. Gemia, tosse, tosse, gemia. A mão trêmula escrevia sua última frase, "não há nada de errado com aqueles que não gostam de política...", gemia, mais tosses, agora com falta de ar, "... simplismente serão governados por aqueles que gostam". O maltrapilho pôs um ponto final ao texto de quinze linhas que tinha ganhado vida, alí mesmo, na calçada. E como todo ''Final Feliz do Curral Político", a ovelha negra desgarrada do rebanho, morreu.<br />Jack Hassan, 19 anos, jogador de beisebol nos fins de semana, colecionador de carros antigos e tampas de garrafa; não comia carne, não bebia nem fumava, mas - que estupidez! -, gostava de política.<div class="blogger-post-footer"><i>Tamy Fernandes</i></div>Tamy Fernandeshttp://www.blogger.com/profile/14627166421208497451noreply@blogger.com0